Rodrigo Galléas compartilha experiência imersiva na Austrália e destaca as qualidades da raça Poll Dorset
Nesta entrevista especial, Rodrigo Galléas, sócio proprietário da Cabanha King Star e associado da Ovinopar, compartilha os aprendizados da sua recente viagem à Austrália, destacando como essas experiências podem enriquecer a criação de Poll Dorset no Brasil
Rodrigo Galléas, sócio proprietário da Cabanha King Star e associado da Ovinopar – Associação Paranaense de Criadores de Ovinos, acaba de retornar de uma viagem à Austrália, onde teve a oportunidade de se aprofundar na criação da raça Poll Dorset. Em uma entrevista especial, ele compartilhou detalhes sobre sua viagem, durante a qual teve a oportunidade de participar da exposição “Australian Sheep & Wool Show”, que contou com mais de 3 mil ovinos de 32 raças diferentes. Na ocasião, Galléas levou duas faixas para os campeões em nome da ABC Poll Dorset, a associação que representa a raça no Brasil.
Ainda durante a viagem, Galléas teve a chance de ver de perto as práticas avançadas e a seleção genética de Poll Dorset na Austrália, um país conhecido pela excelência na produção de ovinos. Ele nos revela detalhes sobre as diferenças entre a criação de Poll Dorset na Austrália e no Brasil, as técnicas inovadoras que presenciou e como essas experiências poderão influenciar o futuro da ovinocultura brasileira.
Galléas ainda compartilha as impressões e aprendizados obtidos em sua viagem, destacando a versatilidade e a qualidade da raça Poll Dorset, que continua a impressionar e a evoluir no cenário internacional. Confira a entrevista completa a seguir:
Ovinopar – O que o motivou a participar de eventos na Austrália e visitar cabanhas de Poll Dorset por lá? Como surgiu a ideia de fazer essa viagem?
Rodrigo Galléas – Essa já era uma ideia antiga, desde que comecei a estudar a raça antes de criar. Iniciei na ovinocultura no início dos anos 90, criando Suffolk com meu pai e, ao mesmo tempo, tínhamos um plantel de matrizes comerciais para produção de cordeiros. Poucos anos depois, conheci o Poll Dorset e acasalei essas fêmeas comerciais, obtendo excelentes resultados, com fêmeas mais prolíficas, com bastante leite, e cordeiros mais precoces, com carne muito saborosa. Paramos de criar por alguns anos e, quando resolvemos retornar, estudamos bastante o mercado e optamos por criar essa raça, da qual cada vez mais tenho certeza de que acertamos.
Com a necessidade de novas linhas de sangue, comecei a buscar contato com criadores australianos que, certamente, têm um perfil de Poll Dorset que funciona muito bem no Brasil, sem contar a seleção genética avançada e testada cientificamente, buscando maior marmoreio e, por consequência, maciez e sabor.
Dessas conversas, acabei conhecendo a CEO da Associação Australiana de Criadores, que me ajudou inicialmente com informações para um artigo que eu estava escrevendo sobre a raça. Daí surgiu o convite para acompanhar a maior exposição australiana na cidade de Bendigo, onde, em poucos dias, consegui organizar tudo e ir.
Ovinopar – Quais foram os principais destaques da sua viagem à Austrália? Houve algum evento ou atividade que você considerou particularmente interessante ou inspirador?
Rodrigo Galléas – No dia inicial da exposição “Australian Sheep & Wool Show” na cidade de Bendigo, fui direto ao pavilhão geral, que já estava movimentado, porque eram três mil ovinos de 32 raças diferentes com julgamentos simultâneos em um espaço de quatro dias. Andei por toda a feira acompanhando alguns julgamentos e dividindo imagens por lives com os seguidores do Instagram da King Star.
No dia seguinte cedo, cheguei para acompanhar a jura do Poll Dorset, onde pude conhecer pessoalmente os criadores e a diretoria da Associação em uma recepção cercada de muita alegria e agradecimentos. Levei comigo, como cortesia, duas faixas para os campeões em nome da ABC Poll Dorset, a nossa associação.
Quando foram definidos os campeões, fui chamado para a entrega das faixas, que foram elogiadas por todos que ali estavam. Após entregar e tirar as fotografias com os vencedores, fui chamado pelo apresentador do julgamento, que narrava tudo o que acontecia aos presentes, para falar um pouco sobre minha visita, sobre o Brasil e o que me fazia estar ali. Na sequência, também houveram entrevistas para alguns veículos de comunicação locais e nacionais.
Ovinopar – O que mais chamou sua atenção durante a sua visita às cabanhas de Poll Dorset na Austrália? Há alguma prática ou abordagem que você achou inovadora ou diferente do que é feito no Brasil?
Rodrigo Galléas – Ao final da exposição peguei o carro e segui viagem por esse país incrivelmente diferente e apaixonado por ovelhas. Eram quilômetros passando por fazendas cheias de carneiros até onde os olhos alcançavam, por vezes dividindo espaço com cangurus e wealabies que transitam livremente pulando cercas.
Algo que me chamou atenção e que é um diferencial comparado ao nosso país, é que 100% dos criadores tem suas fazendas como atividade principal, onde moram com suas famílias e criam basicamente ovinos e bovinos. Já no Brasil uma boa parte dos ovinocultores tem suas criações como segunda atividade, já que é difícil obter bons resultados com a oscilação econômica.
Sendo assim, os australianos estão 24h ligados aos seus animais, procurando melhores indicadores, sejam eles genéticos ou financeiros. Falando particularmente da raça Poll Dorset, dos principais criadores com que conversei, o que menos vende reprodutores, disse que vende aproximadamente 350 por ano e o que mais vende, disse que entre embriões e reprodutores, passa dos 1.300.
Não diferente do Brasil, a lã perdeu valor comercial e todos sabem que na Australia a raça que tem maior número de cabeças é a Merino, sendo uma raça local muito importante. Conversei particularmente com dois criadores de Merino que acompanhavam o julgamento dos Poll Dorsets e ambos me disseram ter dividido seus rebanhos em aproximadamente 30% de animais puros e 70% para cruzamento industrial com Poll Dorset na produção de cordeiros com qualidade superior para melhorar seu resultado financeiro. Falaram ainda que isso tornou-se normal diante do cenário econômico. Daí o resultado da quantidade de reprodutores vendidos que foram mencionados pelos produtores.
Ovinopar – Como você compararia a criação de Poll Dorset na Austrália com a criação no Brasil? Quais são as principais diferenças que você observou?
Rodrigo Galléas – O Poll Dorset é hoje a principal raça utilizada para produção comercial de cordeiros na Australia por suas características reprodutivas que facilitam o parto pelo nascimento dos cordeiros com cabeça pequena, ombros estreitos que evitam o ‘trancamento’, crescimento rápido e carne superior, o que o torna ideal para cruzamento com raças de menor tamanho.
A principal característica é a criação em larga escala com milhares de animais que ficam no campo dia e noite indo para os galpões poucas vezes ao ano. Criam tranquilamente sozinhos e sem acompanhamento no calor, na chuva ou na neve. Após o nascimento, os cordeiros recebem seus brincos ali mesmo no pasto onde seguem com suas mães. Os cordeiros comerciais seguem para o abate e passam por criteriosa avaliação de carcaça que definem seu grau de marmoreio até 5+ que hoje é o máximo.
Ovinopar – Houve alguma técnica ou estratégia específica utilizada na Austrália que você acredita que poderia ser implementada na sua criação no Brasil? Se sim, quais seriam essas práticas?
Rodrigo Galléas – O produtor australiano já é acostumado a fazer exames de comprovação de marmoreio, olho de lombo e espessura de gordura e, com isso, consegue fazer levantamento de qualidade em seu rebanho selecionando as linhas de sangue que o interessam.
Esses exames ainda caminham lentamente no Brasil, mas certamente seriam de grande utilidade, podendo inclusive ajudar no valor do cordeiro com esse diferencial para o mercado.
Ovinopar – Qual foi a reação dos criadores australianos ao saber sobre a criação de Poll Dorset no Brasil? Houve troca de experiências ou dicas valiosas durante a sua visita?
Rodrigo Galléas – Após o julgamento e no dia seguinte, fiquei horas conversando com cada criador (PD) presente na feira, trocando experiências, informações e falando sobre ovinocultura. Conversei também com o jurado da exposição e os diretores da associação. Foram tantas informações que até hoje volto para reler minhas anotações para fixar os números.
Pude perceber a alegria com que fui recebido e a atenção que todos me dispensaram foi incrível na troca de informações. Um detalhe é que cada informação vinha seguida de números e comprovações técnicas e laboratoriais mostrando que o profissionalismo está intrínseco em todos por lá.
Ovinopar – A sua viagem à Austrália trouxe novas perspectivas sobre o futuro da criação de Poll Dorset? Se sim, quais são suas expectativas ou metas para a criação após essa experiência?
Rodrigo Galléas – Se depender da qualidade da proteína gerada, que em uma raça de carne e para o mercado é o que realmente importa, não tenho dúvidas de que o Poll Dorset no Brasil logo estará como na Austrália, que é o maior exportador de proteína ovina no mundo e utiliza os reprodutores da raça para obter um cordeiro de nível superior. Se lá, que atendem os principais e mais exigentes mercados internacionais, utilizam o Poll Dorset, certamente com seu sabor, maciez e suculência, é só uma questão de tempo para que os frigoríficos se atentem para esse fato, como fizeram recentemente com o gado bovino.
Se me fosse pedido para resumir em uma única palavra o ovino Poll Dorset, eu não pensaria duas vezes para responder: VERSATILIDADE. É uma raça incrivelmente versátil quando falamos de características.
A raça vem evoluindo rapidamente e com muita consistência e hoje é reconhecida principalmente por suas características organolépticas de carne superior, com pouca gordura, mas com grande marmoreio, sabor suave, destacada maciez e suculência. É um ovino de porte médio a grande, de vida longa e prolífera, com boa capacidade leiteira.
Produz cordeiros resistentes, com crescimento, precocidade e maturidade destacados, alta taxa de conversão e carcaças fortemente musculosas. Como destaque, posso citar a notável capacidade de reproduzir mais de uma vez ao ano, sendo comumente utilizado em cruzamentos para produção de matrizes que ciclam em qualquer estação. É uma das pouquíssimas raças que têm essa característica acíclica e assazonal. Nascimentos múltiplos são a regra e funcionam muito bem em operações comerciais, incluindo projetos onde os carneiros são utilizados especificamente na geração de cordeiros para o mercado.
Os machos Poll Dorsets têm libido destacada e são utilizados como reprodutores terminais por terem uma genética adequada tanto para o abate quanto para fins de reprodução, assim como as fêmeas, que são utilizadas como raça mãe. Desde que o Poll Dorset se tornou comercial, e por sua adaptabilidade tanto em confinamento quanto em sistemas extensivos, ele se espalhou por todos os continentes e hoje é destaque por sua contribuição na indústria comercial de cordeiros, sendo prontamente utilizado em programas de cruzamento acelerado. Também é utilizado como base para novas raças carniceiras em desenvolvimento.
Prosperando em várias condições adversas, o Poll Dorset também é conhecido por sua alta taxa de conversão e resistência à verminose, o que o torna uma raça melhoradora e complementar às demais já existentes.
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Por Natália de Oliveira/Agência Agrovenki
Fotos: Divulgação/Ovinopar
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